segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mais um

Charlotte is Beck

Nota do editor: bata-se na madeira três vezes antes de prosseguir com a leitura deste texto. Um dia, quando for velhinha e morrer, Charlotte Gainsbourg deverá ter escrito no seu epitáfio: "Sobreviveu a Lars von Trier" A cantora que agora apresenta "IRM" é também actriz e está no cinema com um filme que já foi chamado de tudo (de desagradável para baixo e chocante para cima). Em "Anticristo", Charlotte é uma mãe que perde um filho e, garante a crítica, passa o filme a destruir-se na relação com o marido, Willem Dafoe. Em entrevistas a propósito de "Anticristo", Charlotte fez o que Nicole Kidman e Bjork (actrizes de von Trier em "Dogville" e "Dancer in the Dark") não fizeram: não se queixa. E isso explica-se. Realizador e actriz passaram as filmagens a lamber feridas: ele a recuperar de uma depressão, ela a recuperar de um acidente de esqui aquático (que resultou numa hemorragia cerebral só detectada semanas após o acidente, o que fez com que tivesse de ser operada de urgência e desenvolvesse o medo de morrer a qualquer momento). Mas Charlotte Gainsbourg, francesa, 38 anos, voltou. E, sim, a sombra do pai, o cantor e compositor francês Serge Gainsbourg, que morreu quando a filha tinha 19 anos, veio com ela. De resto, é por ele que ela não canta mais em francês (diz que se sente pequenina) e é também dele que fala neste álbum. Mas o que interessa é que Charlotte voltou. E trouxe Beck (ou Beck trouxe-a a ela). "IRM" é o resultado de apenas alguns dias de estúdio com o músico. Dias que começaram com um som (a primeira contribuição de Charlotte para o álbum): o de um ressonância magnética (IRM). O som que a tinha traumatizado e que agora dá o tom para um disco de pop inteligente, com a sofisticação que se impõe a uma obra que chega assinada por Beck e uma voz que, sendo feminina, não é fã de floreados. "IRM" traz ainda um presente: um dueto de Charlotte e o homem que, fazendo-lhe um disco, não lhe faz sombra, Beck. A faixa que partilham chama-se "Heaven Can Wait". E é verdade, pode esperar. Aquilo do epitáfio era só a brincar.

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