quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Eurovision

Se eu fosse dessas coisas, diria que tenho uma relação adúltera com o teatro. A rotina para mim sempre foi ver dança, o extraordinário para mim foi sempre ver teatro. Mas sei que entristecia sem a rotina e que o extraordinário só é extraordinário porque é mais raro. Também tenho uma relação resolvida com o teatro: já vi o suficiente para saber ver o que vejo, mas vi ainda muito pouco para ser arrogante no olhar. Nunca tinha visto os Praga. Nem é meu costume, mas de facto nunca tinha visto os Praga. Vi-os. E o melhor é que nem os vi em Lisboa. Vi-os fora do seu ambiente, num ambiente que já foi meu. Vi-os no lugar onde nasci, que é aquele que tantas vezes me parece o fim do mundo. E vi um trabalho que não é o mais recente, que me dizem que não é o mais impressionante, que poderá não estar em cena muito mais tempo. Gostei muito. E gostar não é pouco. Quando se fala de teatro, quando eu falo de um espectáculo, gostar nem é o meu objectivo. Eu não vejo para gostar. Eu às vezes até vejo para me incomodar. Mas aqui gostei. Gostei do Festival da Canção. Do Pedro Penim. Do texto. Dos textos. Gostei de não me ter doído o corpo, de não ter mudado de posição quarenta vezes. Gostei disso.

Não gostei de ver as pessoas a aplaudir de pé. Porque aquelas pessoas só aplaudiram de pé porque é assim que se diz que se deve fazer. Aquelas pessoas aplaudiram de pé um minuto e depois agarraram nas carteiras e nos casacos e viraram costas. Aplaudiram de pé para se poderem ir embora mais cedo. Falta-lhes perceber ainda muito. Não lhe faltas ver mais teatro, falta-lhes perceber o que é o espectáculo. Para isso, falta-lhes disciplina. Uma disciplina: Educação para a Arte. Não digo Educação pela Arte (isso também , mas fica para outra vez). Educação para a Arte.