segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Humilhação

Provavelmente era só uma birra de miúda. Uma daquelas birras parvas que os miúdos fazem por causa de uma pastilha elástica. Mas também podia ser uma daquelas birras parvas que os miúdos fazem quando querem a atenção que deviam ter mas não têm. Não sei. O que sei é que aqueles cinco minutos de choro soluçado, a cara encostada ao vidro do autocarro, os olhos já inchados, não foram cinco minutos de aprendizagem para a vida. Aquela miúda chorava e a mãe ria. Mas não ria de outra coisa, ria da miúda. E não ria com ela, ria dela, com o homem que ia ao lado e que pela fisionomia não parecia pai dela. (Também não parecia pai dela porque os pais, com as miúdas, costumam ser pudins flã de tanto mimo) A mãe ria da miúda. Eu ainda olhei para trás. Eu ainda acredito que as pessoas, quando observadas a fazer asneiras, têm vergonha. Mas eu sou parva. A mãe ria da miúda sem parar. Parou. Mas parou para lhe dizer isto: "Queres que toda a gente olhe para ti, não é? A menina está a chorar. Pessoal, olhem para a menina a chorar." A miúda calou-se. E a mãe disse: "Agora já não choras?"

É, podia ser só uma birra de miúda.

13 comentários:

SMS disse...

Olha, essa miúda é que vai precisar de ir ao psicólogo! Chiça!

Anónimo disse...

Para mim a mãe é que precisa de algo urgente.

Spirit disse...

Aposto que deu vontade de levantar do lugar e espetar dois tabefes na mãe... não?

;)

apipocamaisdoce disse...

Dois na mãe e dois na miúda. Só para garantir que não se falhava o alvo.

Papinha disse...

Rir não o faria... mas que às vezes não há nada a fazer quando as birras são caídas do céu... sabe-se lá bem porquê...
Enfim...coisas de criança!!!

Marisa disse...

Essa mãe é um bocado parva! Não tenho filhos mas penso que quando chegar a minha altura não me vou pôr a rir da minha filha (ou filho) nas alturas das birras!
Posso dar-lhes uma galheta, mas rir não.

Anónimo disse...

É muito provável largarmo-nos em comentários ou nutrirmos sentimentos por algo que vemos assim, em cinco minutos de autocarro. É também provável que esses comentários estejam mal fundamentados...

Achei interessante que o comentário da mãe parou com o choro. Sem ter certeza - porque não conheço mais de perto nem a mãe nem a miúda - tal pode significar duas coisas em simultaneo:
(i) O choro era mesmo birra espuria!
(ii) Posto (i), a mãe soube bem como agir com a filha.

Um dos grandes pediatras da actualidade aconselha sempre os pais a terem duas grandes directrizes na educação dos filhos: amor e disciplina. E nunca sobrepôr um em detrimento do outro. Senão fazemos aparecer aquilo que já está a ser mencionado como "os ditadores familiares". Filhos que nunca aprenderam onde estão os limites na sua co-existência com os outros. Há muito amor e compreensão num "não"...

Mas claro que cada um diz o que lhe apetecer. Somos livres de ter
*piniões...

a trapezista disse...

Vou repetir: "Queres que toda a gente olhe para ti, não é? A menina está a chorar. Pessoal, olhem para a menina a chorar." Pronto.

Anónimo disse...

Nao precisas repetir. Ela ja parou de chorar.

a trapezista disse...

Ah ah.

JC disse...

Amor e disciplina, sim. Onde está o amor na humilhação? A humilhação é o maior flop na história da educação infantil. Não resulta. Ponto final.

JC disse...

Ah, e não sou só eu que o digo, é mesmo o próprio Brazelton, que o "pai" cita.

Anónimo disse...

Sem duvida 'jc'. Na humilhacao alias nao ha amor *nem* disciplina.

A questao e outra: como nao conheco nem a mae, nem a filha descritas acima e tambem nao conheco a/o autor(a) fica a duvida
nao so se houve amor ou se houve disciplina, mas tambem se houve humilhacao.

A verdade pode ser simplesmente o obvio que parece e os pontos finais que surgem. Mas tambem pode ser diferente, fruto de tudo nao ter passado de um flash de autocarro onde as *pinioes aparecem mais depressa do que a 'luz'.
Entre um e outro acho que tens razao: conversa ponderada a menos e pontos finais a mais... ca fica outro(.)

No lugar do/a "assistente" no autocarro, e acreditando ser humilhacao, nao esperaria para chegar a um blogue para me manifestar. Como cidadao, ter-me-ia manifestado imediatamente. Foi o que aconteceu?
Ponto de interrogacao.